sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sioux

Escreveram meu nome num papel

e levaram pra receber uma reza forte la no pastor.

Quem sabe as águias agora me alcem.

Na minha onírica e grandiloquente expectativa,

preferiria um sioux

invocando espíritos da floresta a meu favor.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Hanauer e Valiente no Salão Internacional do Livro

Salve, pessoas!
Antes tarde que nunca, demos uma reencarnada e voltamos. Perdoem a "leve" falta de atualização. Acho que toda criatura de alma não pequena se encanta com este texto do Oswaldo Montenegro.
Aproveitando: este sábado (02/05), 14 hs, eu e Valiente estaremos no Salão Internacional do Livro falando sobre este blog e os outros onde escrevemos, sobre nossos livros e otras cositas. Estão todos convocados a participar desta prosa com a gente. Espalhem o convite para seus amigos mundo afora (ôpa). A gente agradece inflamavelmente.
Até sábado.

E de agora em diante
E de agora em diante teria sido decretado o amor sem problemas
E seriam vitrines nos olhos, e as almas vagariam sem medo
E de agora em diante seria pra sempre o que pra sempre acabara
E seria tão puro o desejo dos homens,
que Dionisio enlaçaria a virgem com braços enternecidos
E aplaudiríamos, calmos e frenéticos como um São Francisco Febril
E de agora em diante pra trás não haveria
Não mais a virtude dos fortes, mas o mérito dos suaves
O homem feminino e a mulher guerreira
O amor comunitário, sem ciúmes.
Dariam as mãos as moças que amo e brincariam de roda em volta de minha preferida
E um artesão criança esculpiria flores nos cabelos e um sorriso sincero no rosto
E de agora em diante Mahatma Ghandi tava vivo pra sempre
e Jesus era hippie, Beethoven era roqueiro e Lenon era como nós
E se não desse certo, de agora em diante, ao menos teríamos tentado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sobre as vontades femininas

Onde nasce o nosso desejo? Como ele é montado? Explicado? Acho que nasce bem antes da gente, quando ainda somos poeira cósmica, misturada a um sopro de furacão. Porque acho sim que toda mulher tem disso, tem uma força grande, um olho negro no espaço. E quando viramos corpo somos compactadas , algumas perdem estrelas e meteoritos, outras simplesmente viram nuvens brancas ou chuva rasa, sem muito a dizer. Mas para aquelas que ainda têm essa inquietação, bastante comum nos quinze minutos que antecedem cada tempestade, a essas pergunto: onde nasce o tal desejo?

Acredito que para elas o desejo está junto ao universo de constelações que moram dentro de si. E nesse imenso espaço, onde também existem borboletas e lagartixas, elas cultivam o desejo como uma pequena planta carnívora e sedenta. Porque o desejo nada mais é que isso, estar plantada e querer ter pernas.

E tudo o que sobra são olhares que enxergam mais que a paisagem, são respirações inconstantes, são calores e arrepios que não têm esses nomes pois pertencem a uma criatura inteira que incendeia, vira cinza e recomeça todas as manhãs.

Por tanto não há como separar o desejo da fúria de viver num espaço sideral guardado dentro de si. E talvez isso justifique (ou não) as vontades, inflamáveis e perigosas, tão comuns a essa classe.

Um instante, entre um segundo e outro as separa da louca, essa que vive trancada em casa. Abrem as janelas, deixam que respire o ar fresco da manhã e antes que a gritaria comece fecham tudo. Para reconhecer é preciso atenção. Por isso essas mulheres, essas das quais falo com certo orgulho, são difíceis de encarar. Se olhar lá no fundo é possível ouvir a louca gritar da janela que sai da pupila dos olhos.

Mas, apesar disso, elas não são assustadoras, são intensas, vibrantes e às vezes misteriosamente se calam, num momento de luto com a própria voz. Há aí provas cabais de que são feitas de cosmo e turbilhões. Porque é “preciso atenção para ouvir estrelas”.

E elas sabem de tudo isso, e guardam como se fosse segredo que só revelam quando encontram suas iguais. Que não se parecem na verdade, mas têm em comum esse estado constante de abandono. Nossos desejos são pequenas criaturas, algo entre um gato e um passarinho, que perambula pela casa vazia.
(Valiente).

sexta-feira, 13 de março de 2009

DIA DA POESIA

Caríssimos: perdoem o sumiço. Mas as agendas logísticas...afe!
Para compensar, poemas-samurais:


Troféu
Eis que a pobre não quis mais tomar banho
Em dois vírgula três centímetros do ombro esquerdo
preservava o cheiro alheio recém-impregnado.
Aspirava-o narinas adentro feito um viciado terminal
cheirando a última cocaína.
(Hanauer)

Eu guardo os segredos
numa caixa escura
bem ao lado dos desejos
onde o silêncio ecoa
forrada com veludo vermelho,
de um antigo manto que vesti.
Hoje foi o que restou da majestade
Sua pesada tampa é da madeira
daquele baobá que abandonei
há muito tempo
Essa tem sido minha única lembrança.
É nessa caixa que também deposito
parte da essência com que fui presenteada
ao aportar por aqui.
Dizia nela: use somente em caso de emergência.
E já está vazia.
(Valiente)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Baobás

Segundo Valiente, Deus e o Diabo são amigos e todo final de tarde se reúnem dentro de cada um de nós pra jogar baralho e contar piadas. Alguém duvida?
Nos encontros durante e pós o império dos sentidos do carnaval, a nossa pauta girou em torno de baobás, jibóias e outras coisas do asteróide B-512 (onde pensamos nos refugiar mais cedo ou mais tarde). E daí que achamos que os seres não-unicórnios se enquadram em categorias e sub-categorias, segundo o modo como transitam no mundo e de acordo com os níveis de serotoninas, pantomimas, alegorias psicológicas e adereços espirituais. Algo assim como as categorias cronópios, famas e esperanzas, do gênio Cortázar.
Algumas modalidades preliminares, então:
Quasímodos
Baobás
Amélie(s) Poulain(s)
Pequenos Príncipes
Cuspidores de Fogo
Pelotões de Fuzilamento
Passa o sal
Pessoas-flores
Encostos inviáveis
Clarices
Etc, etc.
Quem pertence a qual ala já é tema pra outra conversa. E como identificar também. Mas é bom perguntar, pelas dúvidas: vc me desenha um baobá? Dependendo da resposta, diga algo de tom clariceano: vou ali morrer um pouco e já volto. E revolva seus vulcões ou se pendure em sinos: isso agrega valor e a pele fica bonita.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

De Recife para o mundo

Pessoas carnavalescas:
Já que estamos em plena apoteose, apresento-lhes um furor incendiário lá de Recife chamado Ingrid. Meu livro foi parar lá na casa dela (e, claro, ele deve estar bem feliz na qualidade de cidadão recifense. Sim, a autora pretende ir ainda nesta encarnação). Ingrid com a palavra:

Sou o pilar que sustenta
um prédio abandonado
de 58 andares
onde o teto da cobertura
já foi muito usado como trampolim...
E eu, sempre lá embaixo,
tendo que ver o fim do espetáculo
de cada um dos meus moradores.

E, da própria região trinacional, o carro alegórico Marisete Zanon:

Hierarquia poética
Na hierarquia da minha dor
a poesia ocupa o alto escalão.
A dor nos rins é um soldado raso.

(Postado por Hanauer)